[dropcap]E[/dropcap]nquanto dormiam em um alojamentos da Universidade de Garissa, no Quênia, estudantes foram acordados por homens armados que gritavam: você é cristão ou muçulmano? A resposta ‘cristão’ virou sentença de morte para pelo menos 147 universitários, com média de idade de 25 anos, e deixou pelo menos outros 120 universitários feridos em estado grave em ataque organizado pela milícia radical islâmica Al-Shabab, ligada ao grupo Al-Qaeda e com base na Somália.
Os quatro homens armados do Al-Shabab invadiram a unidade de ensino por volta das 5h30 no horário local (23h30 de quarta no horário de Brasília) quando a maioria dos 815 estudantes do centro universitário ainda estavam nos dormitórios.
“Quem fosse cristão era baleado ali mesmo”, disse o estudante Collins Wetangula, vice-presidente do diretório estudantil da universidade. Ele relatou ter ouvido disparos em um dormitório. “Eram ouvidos apenas passos e tiros. Ninguém estava gritando porque isso poderia chamar a atenção dos atiradores. A cada tiro que ouvia, eu pensava que iria morrer”, relembrou.
O grupo Al-Shabab afirmou que a ação de morte dos estudantes foi uma vingança contra a intervenção de tropas do Quênia na Somália. Sheikh Abdiasis Abu Musab, porta-voz do grupo, disse que os muçulmanos que estavam no local foram soltos, enquanto os cristãos ainda eram feitos reféns. “Nós separámos as pessoas e libertamos apenas aqueles que eram muçulmanos. Matamos muitos”, disse o porta-voz do grupo.
O Centro de Operação Nacional de Desastre do Quênia informou que as forças de segurança chegaram a isolar os atiradores em um dos quatro dormitórios da universidade, onde pessoas foram mantidas como reféns. Segundo a polícia, o cerco ao local terminou com a morte dos quatro autores do ataque. Segundo o Ministério do Interior do Quênia, a maioria dos estudantes foi resgatada com vida.
O inspetor geral da polícia, Joseph Boinnet, explicou que houve um tiroteio entre os atiradores e os policiais que protegiam as residências logo que foi percebida a movimentação dos radicais. “Os atiradores conseguiram entrar nas residências”, afirmou Boinnet, acrescentando que foi preciso a ação das Forças de Defesa do Quênia e da polícia local para terminar o ataque. A operação durou 16 horas.
Desde outubro de 2011, quando o exército queniano entrou na Somália para combater o Al-Shabab, o país foi alvo de constantes atentados. O mais grave, até ontem, foi no shopping Westgate, em 2013, no qual morreram 67 pessoas.
ONU condena ataque terrorista
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, condenou ontem o ataque terrorista executado por islamitas do grupo Al- Shabab contra uma universidade no Quênia. “Ban espera que a situação esteja logo sob controle sem que haja mais danos àqueles que estão detidos (reféns) e pede que os responsáveis pelo ataque sejam rapidamente levados à Justiça”, afirmou seu porta-voz.
Ban apresentou suas condolências às famílias das vítimas e disse que a ONU está disposta a ajudar o Quênia a “impedir e frear o terrorismo e o extremismo violento”. A preocupação da ONU é com a captação de estrangeiros para integrar os grupos radicais.
Relatório da organização indica que houve um aumento de 71% no número de estrangeiros que lutam por grupos terroristas como Estado Islâmico e Al-Qaeda e suas terminações entre março de 2014 e março de 2015, segundo levantamento. O grupo Al-Shabab tem sede na Somália.
O país está na mira dos jihadistas desde a queda do ditador Mohamed Siad Barre, ocorrida em 1991. A maior parte da capital somali, Mogadíscio, está sob domínio do grupo radical desde 2006.
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