Prédio em Armação tem mais de 40 câmeras, mas Sáttia Lorena caiu em ponto cego, diz administrador
A médica Sáttia Lorena Aleixo, 27 anos, que caiu do 5º andar do prédio onde mora, em Armação, na madrugada de segunda-feira (20), pediu para que não a deixassem morrer. “Ela disse ao porteiro: ‘Por favor, não me deixe morrer’. Ele foi a primeira pessoa que falou com ela”, contou o síndico do prédio do Serra Mar, Leonardo Augusto, ao CORREIO, na tarde desta quarta-feira (22). Após o acidente, ele foi acionado pelo porteiro, uma das testemunhas da tragédia investigada pela Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) de Brotas.
O porteiro, que teve o nome preservado, fora acionado por moradores da Torre Pacífico – o condomínio tem dois edifícios – por causa de uma briga de casal no 5º andar. “Ele recebeu os chamados dos vizinhos que relataram um desentendimento e foi à unidade. Esta foi a primeira vez de uma briga fervorosa, ao ponto de duas unidades acionarem o porteiro para subir”, contou Leonardo.
Como não teve êxito, o porteiro retornou ao posto de trabalho. Quando olhou para cima, viu Sáttia pendurada do lado de fora do apartamento.
“Ele disse que foi muito rápido. Viu ela do lado de fora, como se não conseguisse sustentar o corpo para subir, como se tivesse numa barra de exercício e quisesse retornar à posição, provavelmente não conseguiu esse movimento”, relatou o síndico.
Ele disse que, além de pedir para que não a deixasse morrer, a médica conversou com o porteiro. “Ela estava consciente ao ponto de passar as instruções à equipe do Samu que havia chegado para atendê-la”, contou o síndico. Questionado se ela havia relatado ao porteiro sobre o que havia acontecido dentro do apartamento, o síndico fez uma pausa de alguns segundos e respondeu: “Eu não tenho essa informação”.
Sáttia Lorena continua internad ano Hospital Geral do Estado (HGE) e a família pede por doações de sangue, principalmente do tipo O- (negativo).
Vizinhos
O síndico disse que um morador do quatro andar viu o médico segurando Sáttia, na tentativa de evitar que ela caísse. O morador contou ao síndico que chegou a falar com a médica. “Ele disse: ‘Você é médica, você vai fazer isso mesmo?’. Ele estava no andar de baixo e fala olhando para ela”, relatou Leonardo.
A vizinha do andar de cima também havia iniciado um diálogo com Sáttia. “Ela falou: 'Oh, minha filha, não faça isso, não’”, contou o síndico. Perguntado qual o contexto dos diálogos, o síndico respondeu: “As circunstâncias desse momento, eu não sei. Eu não testemunhei, mas fui comunicado. Não quis descer. Da minha varanda deu para ver ela no play. Coletei informações com as testemunhas para colaborar com as investigações. Apenas relatei o que os moradores me falaram”, disse.
Os vizinhos relatados por Leonardo são testemunhas do inquérito que apura o caso. Além deles dois e o porteiro, um outro morador também foi incluído como testemunha no caso.
Ponto cego
O condomínio tem mais de 40 câmeras, 12 só na entrada. No entanto, a única câmera mais próxima do impacto da queda está posicionada para o parque infantil. O local onde a média caiu é um “ponto cego”. “Não tem registro da queda. A gente viu que local é um ponto cego. A câmera do parque infantil mostra a movimentação de algumas pessoas perto de onde estava a médica, entre eles o médico que, segundo o porteiro, foi solícito com ela”, disse o síndico.
O namorado de Sáttia Lorena, o também médico Rodolfo Cordeiro Lucas, está preso na Delegacia especial de Atendimento à Mulher (Deam) de Brotas. Ele negou a tentativa de feminicídio da qual é suspeito.
Correio 24 Horas
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