A disparada do dólar, que atingiu na terça-feira, 22, a maior cotação do Plano Real, agravou ainda mais a situação financeira da Petrobras. Desde de junho, a estatal já contabilizou uma alta de cerca de R$ 100 bilhões nas dívidas em moeda estrangeira.
Diante do novo patamar do dólar, o endividamento da petroleira pode atingir R$ 513 bilhões ao final de setembro, cifra equivalente a 9,4% de todo o Produto Interno Bruto (PIB) do País em 2014.
As estimativas foram feitas pela consultoria Economática, a pedido do Estado, e considera a cotação de R$ 4,04 para a moeda americana. Ontem, diante das incertezas sobre os rumos da política econômica brasileira, o dólar comercial fechou a R$ 4,05.
Com mais de 70% de sua dívida em moeda estrangeira, a estatal é extremamente vulnerável à variação cambial. A reação dos mercados, ontem, foi imediata. As ações da Petrobras amargaram os menores preços desde 2004, fechando o pregão da BM&FBovespa com queda de 3,13% nas ordinárias e de 4,52% nas ações preferenciais.
As projeções sobre o endividamento da estatal consideram a manutenção da moeda americana no patamar médio de R$ 4,04 durante o terceiro trimestre do ano. Nesse caso, a dívida em dólar chegaria a R$ 442,3 bilhões - uma alta de 28% em relação ao último trimestre, quando a estatal contabilizou em seu balanço financeiro uma cotação média do dólar de R$ 3,10.
Confirmadas as estimativas, o endividamento da petroleira acumulará alta de 723% desde dezembro de 2010. Segundo analistas, a explosão da dívida no período decorre da ingerência política na estatal que, para conter a inflação, segurou o reajuste dos combustíveis. Entre 2011 e o meados de 2014, enquanto o consumo de gasolina e diesel crescia e o preço internacional do petróleo subia, a Petrobras era obrigada a importar combustíveis para atender o mercado interno, mas tinha de revendê-los aqui mais baratos, absorvendo a diferença. Para manter investimentos, a empresa recorreu a crédito externo.
O analista Flávio Conde, do blog WhatsCall, calcula que de R$ 60 bilhões a R$ 100 bilhões da dívida atual devem-se à política adotada no governo da presidente Dilma Rousseff. "O endividamento é a principal questão da Petrobras há muito tempo, e só tem uma solução, que é um aumento de capital", pontua o especialista, ressaltando que o momento não é bom para isso.
A empresa negou, reiteradas vezes, a opção por novo aumento de capital e venda de ações. A medida também divide opiniões. "Investidores privados teriam muito receio de colocar mais recursos na empresa com esse histórico de ingerência, corrupção e endividamento. E como um governo endividado, com uma situação fiscal delicada, vai colocar dinheiro?", questiona Walter De Vitto, da consultoria Tendências.
Para ele, a alta do dólar pressiona a empresa a adotar uma política mais clara de reajustes, com efetiva paridade com os preços internacionais. Dessa forma, ela poderia ampliar suas receitas com a exportação de combustíveis. "Não levar a cabo a paridade de preços é uma medida suicida nesse momento. Caso haja o compromisso de elevar preços de diesel e gasolina, a alta do dólar se anularia com a melhora das receitas", avalia.
Alavancagem
Com a alta da dívida, cresce a alavancagem da empresa, ou seja, o tamanho dos débitos em comparação com o porte da companhia. Analistas olham para indicadores de alavancagem para estimar a capacidade uma empresa pagar suas dívidas.
Segundo cálculos do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), com a alta do dólar, um desses indicadores, a relação entre o endividamento líquido e o patrimônio, chegaria a 58% - ante 51% no segundo trimestre. A estatal define como 35% patamar aceitável para esse índice. Outro indicador de alavancagem (dívida líquida em comparação com geração de caixa) subiu de 1 vez, no encerramento de 2010, para 4,64 vezes, no segundo trimestre.
A Petrobras poderia ter amargado números ainda piores de endividamento, não fosse a decisão de adotar "hedge" - operação financeira que "proteger" o resultado das companhias diante da variação cambial. Como desde maio de 2013 a moeda norte-americana está em trajetória de alta, esse tipo de proteção foi adotada para evitar maiores despesas financeiras. Segundo a empresa, cerca de 70% das dívidas em moeda estrangeiras são protegidas.
"Se uma empresa não adota alguma estratégia, o dólar em alta gera uma despesa de variação cambial", destaca o coordenador do Grupo de Estudos em Direito e Contabilidade da FGV-SP, Edison Fernandes.
(Colaborou André Magnabosco)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo
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