Apesar de ser responsável por belas paisagens, a frente fria está sendo chamada de "Besta do Leste" pelos jornais britânicos.
Além de ter impactos nas estradas, voos e serviços ferroviários e de fechar escolas, o fenômeno já matou pelo menos dez pessoas nos últimos três dias em diferentes cidades da Europa. E deixou o continente em estado de alerta.
Na Polônia, cinco pessoas morreram na segunda-feira, quando a temperatura em Varsóvia chegou a -16°C. Na França, foram pelo menos duas mortes. Há uma grande preocupação com os moradores de rua.
A Organização Mundial de Meteorologia já havia advertido que a temperatura mínima diária para essa semana estaria abaixo dos 0°C até no sul da Europa, e que isso poderia representar "um risco para a vida das pessoas vulneráveis expostas ao frio".
Em Bruxelas, na Bélgica, o condado de Etterbeek determinou a detenção forçada dos sem-teto que se recusarem a ir a abrigos para, assim, evitar potenciais mortes por temperaturas abaixo dos -15ºC.
A "Besta do Leste" não apenas derrubou a temperatura ao longo da semana - foi também responsável por recordes de frio em várias partes da Europa. "É provável que partes da Inglaterra e do País de Gales registrem o período mais frio desde 2013 e, talvez, desde 1991", informou o chefe do serviço meteorológico britânico, Frank Saunders.
Para o Reino Unido, a previsão é de mais neve para os próximos dias. Na Itália, Roma amanheceu na segunda-feira coberta de neve, algo que não acontecia desde fevereiro de 2012. A capital italiana registrou temperaturas de até -8°C.
Na Bulgária, por sua vez, o serviço meteorológico pediu que a população evitasse viagens - as temperaturas chegaram a -7°C em Sofia.
A "besta" tem causado vários transtornos. Com a nevasca, o Reino Unido tem registrado acidentes em estradas, atraso de voos e trens e interrupção de serviços. Na Escócia, mais de 400 escolas e creches não abriram nesta quarta-feira, e outras centenas ficaram fechadas na Inglaterra.
Na Eslovênia, ventos gelados de mais de 100km/h obrigaram as autoridades locais a fechar a rodovia que liga a capital, Liubliana, ao porto de Koper. Na Rússia, os serviços meteorológicos estão advertindo que as temperaturas estarão mais frias que o normal, oscilando entre -14°C de dia e -24°C à noite.
Mais calor no Ártico, mais frio na Europa
O frio extremo na Europa contrasta com a situação no Ártico, que está experimentando um período excepcionalmente quente em uma época do ano em que o sol nem aparece no horizonte.
Nesta semana, o Ártico está experimentando uma grande onda de calor, segundo a União Europeia de Geociências. Em algumas partes da região, estão sendo registradas temperaturas acima do ponto de congelamento, surpreendendo muitos especialistas.
Segundo o jornal britânico The Guardian, especialistas estão usando termos como "maluco", "estranho" ou "simplesmente chocante" para descrever o fenômeno. Mas segundo com a OMM, trata-se de "um momento raro, mas não sem precedentes".
A organização explicou que o fenômeno está relacionado a padrões de circulação atmosférica em grande escala, chamados de "evento de aquecimento estratosférico repentino" e registrados na estratosfera, a uns 30 quilômetros acima do Polo Norte.
"O evento de aquecimento estratosférico provocou uma divisão no vértice polar, que é uma área de baixa pressão na atmosfera superior, com redemoinhos de vento do oeste que circulam ao seu redor", esclareceu a OMM.
Essa divisão dos ventos teria provocado os ventos frios que vêm da Sibéria e têm influenciado a queda da temperatura na Europa.
De acordo com o Guardian, os picos de calor no Ártico são comuns, mas estão se tornando cada vez mais frequentes e de longa duração. O que está em debate no momento é o que está provocando isso, de acordo com a publicação britânica.
"Apesar de poder ser considerado como um evento anômalo, a maior preocupação é que o aquecimento global esteja comprometendo o vértice polar, o vento poderoso que ficava isolado no gelado norte", diz a publicação.
BBC Brasil
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