Acusados de matarem a tiros um garoto na escola foram reconhecidos como inocentes por promotores; o autor do crime era outro
Os americanos Alfred Chestnut, Ransom Watkins e Andrew Stewart ainda eram adolescentes quando foram presos por supostamente atirarem em um garoto de 14 anos na escola. O motivo teria sido uma jaqueta que o estudante vestia e que fazia sucesso na época. Passados 36 anos, o trio foi solto nesta segunda-feira (25) nos Estados Unidos depois que promotores reconheceram que a condenação estava equivocada.
Agora, eles sustentam que o verdadeiro autor do crime era outro adolescente, que nem sequer está vivo. A conclusão faz parte de uma revisão de casos antigos e controversos coordenada pela Promotoria de Baltimore, onde o caso ocorreu. Após os exames, as autoridades encontraram uma série de erros na investigação do assassinato, segundo o jornal The New York Times . A prática tem sido uma constante no país com equipes especializadas se dedicando a averiguar enganos processuais.
Os acusados sempre afirmaram serem inocentes. Insisitiram em sua versão mesmo presos e com possibilidade de progredirem para a liberdade condicional. Com a soltura decretada pela Justiça americana, o caso suscitou debates na comunidade local pelo período em que estiveram em cárcere — mais de duas vezes o tempo que passaram em casa — e pela idade em que foram detidos.
O alívio do trio depois de reencontrar seus familiares foi resumido nas palavras de Chestnut aos jornalistas. "Eu sempre sonhei com isso. Todos os meus amigos da prisão sabem que eu sempre falava sobre isso. Mesmo quando eu era criança, sabia? 'Por que isso está acontecendo comigo?'", disse.
De acordo com o New York Times , a Procuradoria do Estado identificou má conduta na apuração do caso. Entre elas, a do próprio procurador do Estado no período, Jonathan Shoup, por mentir deliberadamente em favor dos promotores. Ele negou possuir qualquer evidência que pudesse pôr em dúvida a culpa do trio.
A atual procuradora do Estado, Marylin Mosby, que assumiu em 2015, se solidarizou aos recém-libertos e disse estar com o coração quebrado pelo tempo de vida tirado de "homens inocentes". "Hoje, não é uma vitória. É uma tragédia que esses três homens tenham tido 36 anos de sua vida roubados", afirmou.
Segundo ela, algumas testemunhas na época das investigações já haviam identificado Michael Willis, morto em 2002, como autor do crime. Novas evidências vieram à tona depois que Chestnut solicitou em 2018 acesso a registros públicos. O arquivo do tribunal mostra que outras quatros testemunhas falharam repetidas vezes ao tentarem identificar em fotos os acusados. Elas se retrataram e disseram que foram coagidas por policiais, também sob pressão para resolver o caso com rapidez, a confirmar aquela versão.
Fonte: Época / Rodrigo Castro
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