Duas pessoas já foram atendidas no Hospital Couto Maia, na Cidade Baixa, vítimas de ataque de um homem não identificado, apelidado de 'maníaco da seringa', nas últimas duas semanas. Entre as vítimas está um soldado do Exército que caminhava pelo bairro da Mouraria, no Centro de Salvador. Segundo a Secretaria da Saúde do Estado (Sesab), as vítimas, que foram espetadas em dias diferentes, fizeram profilaxia para Aids e Hepatite B e continuam em atendimento na unidade médica.
[caption id="attachment_47440" align="aligncenter" width="620"] Mãe de uma das vítimas mostra remédios que filho vem tendo que tomar para evitar infecção (Foto: Betto Jr / Correio)[/caption]
Apesar de a Sesab informar que apenas duas pessoas deram entrada no Couto Maia devido ao ataque do maníaco, funcionários disseram que outras duas pessoas chegaram à unidade alegando as mesmas circunstâncias. “Essa informação não procede. Até agora somente duas pessoas foram medicadas e terão que fazer o tratamento até seis meses depois do incidente”, declarou Ceuci Xavier Nunes, diretora do Couto Maia.
Um dos casos aconteceu na Avenida Joana Angélica e foi registrado na 1ª Delegacia (Barris). O soldado do Exército de 20 anos tinha acabado de deixar o Quartel da Mouraria quando foi espetado no último dia 7. Ele prestou queixa no dia seguinte. “Estamos investigando. O rapaz esteve na delegacia e registrou queixa, mas até agora não retornou para ser ouvido novamente, para então fazer o exame de corpo de delito e retrato falado do criminoso”, declarou o delegado Adailton Adan, titular da unidade.
Ataque
O Correio conversou com parentes do militar que foi atacado na Avenida Joana Angélica. Costumeiramente, o rapaz tem o hábito de andar da Mouraria até a estação do metrô do Campo da Pólvora, onde de lá segue para casa. Mas no dia 7, fez diferente. “Ele foi comprar uma camisa que havia gostado e seguiu para a loja, perto do Colégio Central, na Joana Angélica”, declarou a mãe do rapaz.
O soldado foi atacado no momento em que ele e o criminoso, que vinha em sentido contrário, se cruzaram. “Ele disse que sentiu uma fisgada no braço e se desesperou quando viu a blusa manchada de sangue na altura do ombro. Em seguida, ele viu o bandido correndo e segurando uma seringa”, contou a mãe do rapaz.
O soldado foi levado por parentes ao Couto Maia instantes depois. “Chegamos lá, uma atendente disse que outras pessoas deram entrada lá na mesma situação, mas que não registraram queixa na polícia”, contou a mãe da vítima.
Coquetel
O rapaz foi submetido a exames rápidos para saber se houve algum tipo de infecção e deram negativo. Apesar disso, deu início ao tratamento com coquetéis para prevenção de Aids e Hepatite B. “Até o dia 28 deste mês ele terá que tomar três remédios fortes que o deixam com frequentes náuseas e dores de cabeça. Quando as reações são muito fortes, ele não vai trabalhar”, declarou a mãe do rapaz, que é casado.
Segundo ela, desde o dia em que o filho foi atacado, ele anda aflito. “Acorda e dorme rezando para que o tratamento funcione, que não tenha contraído nenhuma doença. Ele era um rapaz muito alegre, mas atualmente está angustiado. Até o fim de todos os exames será assim”, comentou.
Preconceito
Ainda segundo a mãe do soldado, ele vem sofrendo preconceito. “Hoje ele sai de casa para o trabalho e vice-versa. Ele deixou de sair na rua porque as pessoas passaram a olhá-lo de forma diferente, como se ele já estivesse com a doença (Aids). Quando sai para outro lugar, sempre é acompanhado por alguém da família. Ele deixou de usar as redes sociais e não quer que ninguém comente o fato em casa”, contou.
“Quem fez isso não pensou que poderia atingir uma família inteira. Estamos sofrendo junto com ele, mas Deus é mais forte e creio que tudo vai terminar bem”, finalizou a mãe do militar.
Medo
O Correio esteve no centro da cidade e algumas pessoas mostraram-se amedrontadas. “Estou apreensiva com isso e esse louco ainda está solto. Como pode?”, questionou a diarista Marizete Santos, 55, na Praça da Piedade.
“Não é à toa que as pessoas têm que temer mesmo. Uma situação como essa acaba com a vida de uma família inteira”, declarou a professora da rede municipal Gleice Alcântara, 47.
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