Um homem ainda não identificado foi morto na madrugada desta quarta-feira (16) dentro de uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). O crime aconteceu na Avenida Bonocô, quando o paciente estava sendo socorrido para o Hospital Geral do Estado (HGE), após ter sido baleado.
Segundo Ivan Paiva, coordenador do Samu, a ambulância foi acionada para atender à vítima na Avenida Barros Reis, em frente ao Atacadão. Para os socorristas, o rapaz contou que havia sido baleado durante um assalto, por volta de meia-noite.
Uma equipe da 37ª Companhia Independente da Polícia Militar (Liberdade) foi acionada para atender a ocorrência no local, e em seguida a ambulância seguiu para o HGE. Segundo o major Edmilton Reis, comandante da companhia, uma guarnição fazia ronda próximo ao local quando foi acionada para dar apoio. “A guarnição só ficou no local enquanto a Samu chegava e prestou atendimento. Depois, quando a ambulância saiu, a guarnição continuou fazendo rondas no local”, informou.
O major não soube informar as circunstâncias do crime e explicou que a 1ª CIPM (Pernambués) que é responsável pela área. “Demos esse apoio porque seria apenas atravessar a rua e aguardar a ambulância”, completou. Ainda segundo ele, o homem estava falando quando a polícia chegou.
Na avenida Bonocô, próximo a uma estação do Metrô, a ambulância foi interceptada por um carro e obrigada a parar. No veículo estavam um motorista e uma técnica em enfermagem. “Um homem armado desceu do carro e abriu a porta do carona da ambulância. Eles pediram para que os funcionários abaixassem a cabeça para não morrer", relatou.
Ainda de acordo com Ivan Paiva, o suspeito entrou no carro pelo acesso da frente e foi até o fundo do veículo com a técnica. Lá, ele atirou quatro vezes no rapaz. O homem fugiu após o crime. Os socorristas verificaram que o paciente já estava morto e resolveram recolher o veículo para a base do Samu, que fica no Hospital Ernesto Simões, em Pau Miúdo. Por meio de nota, a Polícia Militar informou que na segunda ocorrência não foi acionada, e que "sempre apoia o Samu quando é solicitada".
"Os dois profissionais são antigos no Samu e estão extremamente abalados com o que aconteceu. Não têm condições nem de falar direito sobre o que aconteceu", explicou Paiva. A ambulância já foi lavada e higienizada na manhã de hoje. A Polícia Civil informou que o homem ainda não foi identificado, e que o caso será investigado pela 1ª Delegacia de Homicídios (Atlântico), do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Insegurança
Os profissionais do Samu que testemunharam o crime devem receber assistência psicológica após passar pelo trauma do crime desta madrugada. Situações como essa têm se tornado cada vez mais comum na rotina dos socorristas que atuam durante a madrugada. O condutor e socorrista Roberto Reis, 52 anos, ainda lembra com detalhes de quando a ambulância que dirigia foi atingida por tiros na BR-324, em maio deste ano.
“Quando retornava para a base, no km 621, na altura da Brasilgás, um indivíduo com uma Paraty vermelha, colou na lateral da unidade, me xingou e disparou. Aí tentei desviar e o carro capotou”, lembrou Roberto. Ele levou oito pontos na boca e o técnico de enfermagem que estava no veículo também se machucou e até hoje está afastado do serviço.
Roberto diz que repensou se valeria a pena retornar ao trabalho. “Fiquei 47 dias repensando se voltaria a fazer esse trabalho, diante de tamanha brutalidade que aconteceu naquele momento”, disse o condutor. E não foi a primeira vez que ele passou por situações de violência. Quinze dias antes dessa ocorrência, ele e a equipe do Samu foram expulsos do bairro da Palestina quando foram atender uma ocorrência.
E em janeiro desse ano, Roberto foi assaltado em Pirajá, quando estava trabalhando. Todas as ocorrências aconteceram de madrugada. “As madrugadas são sempre complicadas para que a gente saia da base para fazer o atendimento. Por isso hoje com mais cautela”, afirmou.
Apoio da polícia
O coordenador do Samu, Ivan Paiva, explicou que sempre que existe uma situação de risco, a base entra em contato com a Polícia Militar para pedir apoio. “Se sabe que está tendo conflito, acionamos a polícia para nos dar apoio. Como a gente não pode ficar na base aguardando para fazer o atendimento, a equipe se desloca até o local mais próximo da ocorrência e que seja seguro para aguardar a polícia”, detalhou.
Ivan diz que muitas vezes a população não entende a postura do Samu. “Eu não posso pôr a minha equipe em risco. A gente quer prestar assistência, quer atender todo mundo, mas desde que haja segurança”, disse.
Ainda de acordo com ele, uma reunião deverá formalizar a parceria entre a Polícia Militar e o Samu em atendimentos que envolvam casos de violência urbana. “Muitas vezes a gente fica na dependência da disponibilidade da equipe, que às vezes precisa permanecer no local do crime e não pode nos acompanhar”, explicou. A proposta é que em todos os casos uma guarnição da PM acompanhe a ambulância até o hospital.
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