Dois dias após ser citado em gravações pelo ex-ministro do Planejamento Romero Jucá, o presidente do PSDB, Aécio Neves, é citado novamente em gravações obtidas pelo jornal Folha de S. Paulo.
Em conversas publicadas novamente pelo repórter Rubens Valente, Renan Calheiros, que preside o Senado, fala ao ex-presidente da Transpetro Sergio Machado que Aécio "está com medo".
Em outro trecho, os dois falam sobre o ex-presidente Lula, que era investigado na Lava Jato. Segundo Renan, Lula está "consciente" e que achava que "a qualquer momento pode ser preso".
Sobre o PSBD e Aécio:
Machado: É o seguinte, o PSDB, eu tenho a informação, se convenceu de que eles é o próximo da vez.
Renan: [concordando] Não, o Aécio disse isso lá. Que eu sou a esperança única que eles têm de alguém para fazer o...
Machado: [Interrompendo] O Cunha, o Cunha. O Supremo. Fazer um pacto de Caxias, vamos passar uma borracha no Brasil e vamos daqui para a frente. Ninguém mexeu com isso. E esses caras do...
Em outro trecho, Aécio "está com medo":
Renan: Toda hora, eu não consigo mais cuidar de nada.
[...]
Machado: E tá todo mundo sentindo um aperto nos ombros. Está todo mundo sentindo um aperto nos ombros.
Renan: E tudo com medo.
Machado: Renan, não sobra ninguém, Renan!
Renan: Aécio está com medo. [me procurou] 'Renan, queria que você visse para mim esse negócio do Delcídio, se tem mais alguma coisa.'
Machado: Renan, eu fui do PSDB dez anos, Renan. Não sobra ninguém, Renan.
E sobre Lula:
Machado: Tá mesmo. Ela acabou. E o Lula, como foi a conversa com o Lula?
Renan: O Lula está consciente, o Lula disse, acha que a qualquer momento pode ser preso. Acho até que ele sabia desse pedido de prisão lá...
Machado: E ele estava, está disposto a assumir o governo?
Renan: Aí eu defendi, me perguntou, me chamou num canto. Eu acho que essa hipótese, eu disse a ele, tem que ser guardada, não pode falar nisso. Porque se houver um quadro, que é pior que há, de radicalização institucional, e ela resolva ficar, para guerra...
Machado: Ela não tem força, Renan.
Renan: Mas aí, nesse caso, ela tem que se ancorar nele. Que é para ir para lá e montar um governo. Esse aí é o parlamentarismo sem o Lula, é o branco, entendeu?
Machado: Mas, Renan, com as informações que você tem, que a Odebrecht vai tacar tiro no peito dela, não tem mais jeito.
Renan: Tem não, porque vai mostrar as contas.
Nessa mesma conversa, Renan fala sobre negociar uma espécie de acordo com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) uma "transição" para a presidente afastada Dilma Rousseff.
Em nota, Renan minimizou as falas sobre as delações e se desculpou com Aécio Neves:
O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) tem por hábito receber todos aqueles que o procuram. Nas conversas que mantém, habitualmente, defende, com frequência, pontos de vista e impressões sobre o quadro. Todos os pontos de vista, evidentemente, dentro da Lei e da Constituição Federal.
Todas as opiniões do senador foram publicamente noticiadas pelos veículos de comunicação, como as críticas ao ex-presidente da Câmara dos Deputados, a possibilidade de alterar a lei de delações para, por exemplo, agravar as penas de delações não confirmadas e as notícias sobre delações de empreiteiras foram, fartamente, veiculadas. A defesa pública de uma solução parlamentarista também foi registrada em vários artigos e colunas e o próprio STF pautou o julgamento do tema. O Senado, inclusive, pediu sua retirada da pauta.
Em relação ao senador Aécio Neves (PSDB-MG), o senador Renan Calheiros se desculpa porque se expressou inadequadamente. Ele se referia a um contato do senador mineiro que expressava indignação – e não medo – com a citação do ex-senador Delcídio do Amaral.
Os diálogos não revelam, não indicam, nem sugerem qualquer menção ou tentativa de interferir na Lava Jato ou soluções anômalas. E não seria o caso porque nada vai interferir nas investigações.
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