Religiosamente políticos
[dropcap]N[/dropcap]os últimos meses a religião tornou-se o centro das atenções nas discussões políticas, transformaram a questão religiosa em um verdadeiro trunfo para convencer os incautos fiéis de que aquele candidato é melhor porque pertence a tal religião. Inúmeras são as demonstrações de que o simples fato de ser religioso praticante ajudará na árdua tarefa de convencer o leitor de que este candidato terá êxito e será honesto no exercício da função.
Diante de tantas declarações carregadas de fé ou puro oportunismo religioso é que concluímos que a grande maioria dos candidatos de todas as matizes religiosas não fazem a mínima ideia do que encontrarão se eleitos, ou que não saibam o que realmente este enorme pais precisa para resolver seus problemas. Neste Brasil de contrastes e misturas é preciso que deixemos um pouco de lado estas questões apaixonantes e nos preocupemos com as reais necessidades das regiões relegadas ao desprezo por vários governos.
Há muito tempo que boa parte do país não possui um projeto político próprio para a sua região, lugares distantes dos grandes centros só são lembrados quando das campanhas políticas ou para instalarem novas igrejas ou templos. A imensa desigualdade social e educacional existente em nosso país é um dos entraves para que estes problemas sejam resolvidos. Usa-se a necessidade de muitos para satisfazer os desejos de poucos.
O mais preocupante nisto tudo é constatar que a sociedade continua refém de um discurso religioso voltado para o convencimento de que ou você se “converte a minha religião ou não será salvo”.
A mesma sociedade que se apoderou dos discursos preconceituosos nas redes sociais, que insiste em desconsiderar que a vida da maioria dos brasileiros teve uma melhora significativa, continua a pautar suas decisões e os acontecimentos que a cercam, na vontade de Deus. Acreditar ou não nele é uma questão de escolha, da mesma forma que ele nos deixou o livre-arbítrio para que escolhêssemos o caminho a seguir, ser salvo ou não depende da vontade de cada um, não precisamos que ninguém fique a nos palpitar qual religião nos dará uma melhor cadeira no céu.
Espero que um dia a sociedade consiga se livrar destas discussões e se volte para as verdadeiras demandas de um país que respira várias culturas e que deve ser observado de maneira mais plural.
Américo Oliveira Júnior
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