Até a última semana, vítimas de acidente de trânsito atendidas em qualquer hospital da Bahia tinham o estado de saúde notificado como trauma, sem qualquer referência sobre a motivação. Após portaria da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), publicada no Diário Oficial do Estado no último dia 10, casos como estes deverão ser incluídos na lista de doenças de notificação compulsória, para interesse de saúde pública.
O objetivo do decreto é aperfeiçoar estatísticas locais e mapear as regiões com maior incidência de acidentes de trânsito. Diante destas notificações, serão elaborados medidas e campanhas com o objetivo de evitar ocorrências envolvendo motoristas e pedestres nas vias de todo o estado.
De acordo com a Sesab, por meio do antigo sistema de notificação, antes da publicação da portaria, era possível estimar o número de mortos por acidentes de trânsito e, mais especificamente, os que envolviam motocicletas.
No entanto, as vítimas não fatais não eram fáceis de ser mensuradas, pois o motivo da entrada desses pacientes no hospital não era justificado. Estes pacientes, de acordo com o órgão, eram notificados como vítimas de politraumatismo, traumatismo craniano ou fraturas de membros, e não como acidentes de trânsito.
A intenção da Sesab é trabalhar com números precisos, tendo em vista que a notificação será obrigatória para os profissionais de saúde e responsáveis pelos serviços públicos e privados.
O coordenador executivo da órgão, Diego Alvarez, pontua que a proposta do decreto é realizar a coleta de dados e, a partir disso, desdobrá-los em ações direcionadas para o trânsito.
"Dentro do sistema de notificação, vamos fazer uma customização que traga mais detalhes. O sistema já está apto para receber a notificação, pois já tem a categoria para acidente de transito. O que vamos fazer, agora, é ramificar as informações", explica.
Medidas
De acordo com o membro da Câmara Técnica de Medicina de Tráfego do Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb), Antônio Meira, a normativa deve permitir uma real noção dos acidentes em determinadas áreas.
"Todos os médicos devem seguir o Código Internacional de Doenças (CID) relativos a acidentes por meio de transporte terrestre, que são subdivididos para especificar o papel da vítima ou as circunstâncias do acidente", diz Antônio.
Segundo ele, a ação da Sesab surge como um grande avanço no trabalho para salvar vidas. "Vamos passar uma informação para todos os médicos solicitando imediatamente que tudo seja feito conforme a exigência da portaria", afirma.
Vítimas
Eliana Cristina, 43, foi vítima de um acidente de trânsito na avenida Dorival Caymmi, no bairro de Itapuã, há um ano. Ela foi atropelada por um carro e até hoje segue internada.
[caption id="attachment_64481" align="alignnone" width="750"] A filha de Edineia Vieira, 62, foi atropelada em Itapuã (Foto: Mila Cordeiro | Ag. A TARDE)[/caption]
A mãe de Eliana, a aposentada Edineia Vieira, 62, recebe, hoje, atendimento jurídico do Pró-Vítimas, órgão vinculado ao Departamento Estadual de Transito (Detran), que oferece apoio a vítimas e familiares de pessoas acidentadas.
A aposentada comemorou a decisão da Sesab. "É uma medida formidável, principalmente porque vai identificar os locais com maior número de acidentes, e evitar futuros traumas de diversas famílias", diz.
Em 17 anos, Bahia registrou 34 mil mortes no trânsito
Na Bahia, entre 2000 e 2017, foram registradas cerca de 34 mil mortes em acidentes de trânsito – o número equivalente à população do município baiano de Cachoeira (a 100 km de Salvador).
Deste total, mais de seis mil pessoas estavam dirigindo motos, enquanto cerca de 12 mil ocupavam carros. As informações são da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab).
Nos seis primeiros meses de 2015, o Hospital Geral do Estado (HGE), na capital, o Hospital Geral Clériston Andrade (HGCA), em Feira de Santana, Hospital Geral de Camaçari (HGC) e o Hospital Geral de Guanambi (HGC) registraram cerca de 3, 5 mil acidentes envolvendo motociclistas.
A soma dessas vítimas de acidentes nos quatro hospitais do estado equivale a uma média de quase 20 entradas em uma unidade de emergência por dia.
Leitos
O Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb) estima que vítimas de acidente de trânsito são responsáveis pela ocupação de 60% do total de leitos hospitalares destinados a cuidados intensivos.
“Isso significa que a partir de um trabalho de prevenção dos acidentes, mais leitos serão liberados nos hospitais públicos e particulares”, relata o membro do Cremeb, Antônio Meira.
Ainda de acordo com informações do Conselho Regional de Medicina da Bahia, cerca de 90 % dos acidentes de trânsito são causados pelo fator humano, seja por atitudes não pensadas ou pela negligência de outros motoristas.
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