O romance que a doméstica Claudiane de Jesus Santos, 30 anos, matinha há quatro anos com o policial militar Ruan Veber Patriarca, 29, quase acaba em tragédia na noite desta segunda-feira (10), na Ladeira da Soledade, no bairro da Lapinha, onde ela morava com o filho e o marido, o conselheiro tutelar Eric Damasceno dos Santos, 36.
Foi no local, bem em frente a casa do casal, que já estavam juntos há 10 anos, que Eric disparou duas vezes contra o PM por volta das 23h. De acordo com a ocorrência registrada na 2° Delegacia (Liberdade), Ruan foi atingido no lado direito do queixo e no lado esquerdo do tórax, depois de perder sua arma enquanto tentava defender a amiga que estava sendo ameaçada com uma faca pelo marido.
Ainda de acordo com o registro, o PM que é lotado na 23ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/Tancredo Neves), foi socorrido por um colega, que também é PM, e encaminhado para o Hospital Ernesto Simões Filho, no Pau Miúdo, onde passou por uma cirurgia e, segundo familiares, apresenta um quadro de saúde estável e não corre risco de morte.
No entanto, a versão apresentada pela doméstica é um pouco diferente. De acordo com ela, Ruan era seu amante. Os dois teriam começado a se envolver quando ela passou a ser agredida e maltratada pelo conselheiro tutelar. O comportamento agressivo do marido teria começado há cerca de cinco anos. Mas, apesar das agressões, a doméstica nunca prestou queixa contra o companheiro. Preferiu continuar com ele, por não ter condições financeiras de sair de casa. Ainda de acordo com ela, Ruan não era casado, mas tinha uma namorada.
"A gente sempre brigava e ele já chegou a me bater. Tentei sair duas vezes de casa, mas sem dinheiro e apoio fica complicado", disse ela. Ainda de acordo com a doméstica, o marido sabia da sua "amizade" com o PM e já tinha chamado atenção da esposa para a "relação estranha" dos dois. "Ele dizia: 'Não existe amizade entre homem e mulher. Quem já viu amizade assim?'", conta.
Flagra
No dia do crime, quando foi flagrada pelo esposo no carro do amante, na porta de casa, a doméstica voltava da residência de uma amiga na Estrada da Rainha, na Baixa de Quintas, onde teria ido para tentar consertar uma prancha de cabelo que havia quebrado. "Ele me ligou e perguntou onde eu estava. Eu disse que estava na casa de uma amiga e ele resolveu me dar uma carona", disse ela.
Foi na porta de casa que o marido viu os dois. Furioso, o conselheiro tutelar resolveu acertar as contas com o PM. Foi aí que começou a confusão. O marido traído pediu para que o amante descesse do veículo para ter uma conversa dentro da residência. Desconfiada da intenção do esposo, Claudiane partiu para o "deixa disso". O bate boca que começou na rua, terminou no interior da casa do casal.
Foi lá, já na sala, que o marido foi até cozinha e retornou com uma faca tipo peixeira. A princípio, a arma foi utilizada para ameaçar a mulher, que chegou a ser agredida na confusão. Depois de presenciar a doméstica sendo lançada contra a parede e tendo os cabelos puxados, o PM entrou em luta corporal com Eric. O policial chegou a tomar a faca da mão do agressor, mas acabou tendo a sua arma arrancada da cintura. "Ele (Eric) gritava: 'Você puxou a arma pra mim?'", relembra.
Depois de atirar contra o policial, o marido chegou a fazer outros três disparos durante a fuga. A arma foi levada por ele, que correu em direção ao bairro do Barbalho. Na noite desta terça, a polícia informou que a pistola 380 usada para balear o policial foi recuperada pelos investigadores. Ela estava dentro de um caqueiro, em um casarão abandonado, na mesma região do crime. A arma foi encaminhada para ser periciada.
A faca utilizada por Eric para ameaçar a esposa ficou no local. Na manhã desta segunda (11), Claudiane se apresentou na 2ª Delegacia (Liberdade), onde foi ouvida e encaminhada para fazer exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML). Foram ouvidos também familiares do suspeito e testemunhas do crime.
Eric está sendo procurado. Quem tiver informações sobre o paradeiro dele pode ajudar a polícia através do Dique Denúncia, no telefone (71) 3235-0000.
Segundo o titular da 2ª Delegacia, Luiz Henrique Costa Ferreira, o caso deve ser apurado como tentativa de homicídio. Em sete meses, 53 policiais foram baleados ou morreram na Bahia. Os dados foram coletados pelo CORREIO, com base nas reportagens publicadas. As estatísticas contabilizam policiais civis e militares, em diversas situações durante o serviço e fora dele. Os crimes aconteceram entre 3 de janeiro e 8 de julho.
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