— Isso só vai causar coisas ruins, e em vez de parar, a sua tristeza só vai aumentar. E acumular até te deixar vazio por dentro e por fora — disse a jovem. — Eu diria a elas para apostarem em algo que gostem, uma música boa que ouviram no rádio, que possam escutar e se sentirem melhor. Porque eu sei o quanto dói, mas não vai ser o jogo que vai fazer você parar de sentir dor. E nem a morte.
A adolescente contou que soube da existência do Baleia Azul no fim do ano passado, por amigos e redes sociais, e começou a se inteirar do assunto no início deste ano.
— Eu pensei que seria uma saída para mim. Uma saída para a minha tristeza — disse a jovem, que revelou ter sido aliciada por uma pessoa nas redes sociais. — No perfil dele tinha uma baleia. Eu disse que queria participar, e ele perguntou se eu tinha certeza, porque não tinha mais volta se eu entrasse.
Entre os “desafios” propostos por essa pessoa estavam pedidos para que ela fizesse cortes nos braços no sentido das veias, e registrasse tudo em vídeos e fotos que serviriam como provas.
— Eu confiava no jogo, acreditava que aquilo ia me fazer ter coragem de me suicidar.
Mariana foi salva pela mãe, que descobriu a tempo que a filha estava participando do jogo. Ela chegou a ser internada num hospital da Zona Oeste, onde repensou o desejo de pôr fim à própria vida.
— Quando eu fiquei internada, vi muita gente tentando lutar para sobreviver — disse ela. — Despertou em mim algo que não consigo explicar, mas que era injusto. Injusto com eles.
OUTROS CASOS NO PAÍS
Além do caso de Mariana, a Delegacia de Repressão a Crimes de Informática do Rio apura outros três casos, sendo que nenhum deles terminou com morte. Dois administradores do jogo, responsáveis pelo aliciamento de participantes, estão sendo investigados.
Em Minas Gerais, a polícia investiga o caso de um jovem de 19 anos, encontrado morto no último dia 12, na cidade de Pará de Minas. Em Mato Grosso, um inquérito foi aberto para apurar a morte de uma adolescente de 16 anos, encontrada numa represa de Vila Rica. A mãe dela teria identificado cortes nos braços da filha há cerca de dois meses.
As vítimas costumam seguir um perfil básico. São adolescentes, a partir de 12 anos, com tendência à depressão, na maioria das vezes vezes aliciados nas redes sociais, onde recebem suas missões dos administradores, também chamados de curadores. Se relutarem em cumprir as ordens e manifestarem a vontade de sair do jogo, são ameaçados. Como têm acesso ao perfil dos participantes em sites de relacionamentos, os administradores pressionam os jovens.
Segundo a polícia, esses aliciadores podem responder a diversos crimes, como associação criminosa e responsabilidade por lesão corporal promovida pelos participantes do jogo, além de tentativa de homicídio.
O Globo
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