Quando chegou na prefeitura de Jacobina, no Piemonte da Diamantina, para tomar posse paramentado de vaqueiro e no lombo de um boi, Tiago Dias (PCdoB) queria fazer da alegoria uma marca de governo. Aos 38 anos, o novo prefeito, que tinha sido vereador antes, queria interromper uma história de concorrentes oriundos dos segmentos mais endinheirados do município. A administração dele é bem avaliada por 65,73% dos jacobinenses (veja aqui).
Onze meses depois daquela posse incomum, Tiago Dias, um dos poucos prefeitos negros na Bahia, diz que quando encerrar o mandato vai ficar satisfeito se deixar no imaginário jacobinense a ideia de que cada um pode chegar onde ele chegou.
“Até a nossa chegada, Jacobina tinha o entendimento que só podia ser governada por A e B de poder aquisitivo alto. Foram 300 anos. E agora acabou isso. Se o gari quiser, ele pode se candidatar a prefeito, mesma coisa de um vaqueiro e um motorista, e por aí vai. É um novo contexto político”, avalia em entrevista ao Bahia Notícias.
Em rota contrária ao antipetismo, onda que levou à presidência Jair Bolsonaro, o prefeito foi eleito por um partido de esquerda mais antigo que o PT e em vários momentos até mais radical.
Tiago Dias afirma que, ao contrário do coirmão, a agremiação que faz parte não precisou se distanciar da base, o que poderia explicar vitórias como a sua em outras 15 cidades baianas, a exemplo de Capela do Alto Alegre, Poções e Várzea do Poço.
“Em Jacobina, PT e PCdoB não são idênticos. Por mais que se fale: 'Ah, PT e PCdoB são a mesma coisa'. Não são. Temos programas parecidos. Mas no PCdoB nós conseguimos manter o centralismo democrático em que as decisões da maioria prevalecem, e o PT é decidido mais por algumas pessoas. O PT daqui da Bahia até que nem tanto é assim. Mesmo sendo o partido mais antigo no Brasil, o PCdoB é o mais renovado. Porque nós conseguimos compreender que quem sabe o que quer consegue conversar com os diferentes. E o país, os estado e os municípios são formado por vários segmentos que devem ser respeitados”, teoriza. Na eleição de 2020, um dos adversários de Dias era uma candidata do PT.
Confiando no poder simbólico das atitudes, o prefeito também decidiu receber um salário mínimo neste ano, abdicando dos vencimentos integrais do cargo. “O que eu quis demonstrar é que eu não estou na política pela questão salarial, e sim porque eu acredito no poder dela na transformação da sociedade. E seria fácil eu dizer que estava governando para o povo, com o povo e pelo povo, mas ganhando 15 vezes mais que a população", discorre. Para 2022, o gestor promete também seguir em linha parecida. Em vez do corte no salário, o prefeito estuda doar parte da renda que tem direito para uma entidade. O nome dela, porém, não revelou. "É uma coisa que ainda nem conversei com os outros", segredou.
Entre outras ações, o prefeito afirma que seu governo já pode mostrar resultados. “São investimentos em segurança pública, através da nossa guarda municipal, avanços na educação, como plano de cargos e carreira dos profissionais, em que já publicamos mais de 250 processos. Toda frota do transporte escolar vai ter ar-condicionado. A estrutura das escolas também vai mudar. Já estamos em reforma de sete das 49 e quando virar 51 escolas, todas serão climatizadas, terão merenda escolar de qualidade e novo fardamento, com farda completa nas séries iniciais. Vamos oferecer desde o sapato até a blusa de frio”, completa.
Fonte: Bahia Notícias
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