Um incêndio iniciado na fim da tarde de sábado, 17, no município de Pedrógão Grande, na região central de Portugal, provocou a morte de ao menos 62 pessoas, informaram as autoridades na manhã deste domingo. O número de feridos chega a 54, neste que pode ser o pior incêndio florestal da história do país.
— A prioridade agora e salvar as pessoas que podem seguir em perigo — declarou o primeiro-ministro de Portugal, António Costa, que acompanha o desenrolar do incêndio da sede da Defesa Civil, em Lisboa. —Infelizmente, esta é sem dúvida a pior tragédia que vivemos nos últimos anos em termos de incêndios florestais — concluiu, ressaltando que é possível que existam "mais vítimas fatais".
Pelo menos 30 pessoas morreram dentro dos veículos ou foram pegas pelas chamas perto dos carros, na estrada entre Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pêra. Três morreram asfixiadas pela fumaça em um cemitério. Dos feridos, 18 foram transferidos para hospitais em Lisboa, Porto e Coimbra.
692 bombeiros, com 224 veículos e dois aviões, foram enviados para o combate às chamas que começaram por volta das 14h de sábado, numa localidade de Pedrógão Grande, a 200 quilômetros de Lisboa, no distrito de Leiria. Segundo o Secretário de Estado da Administração Interna, Jorge Gomes, o fogo "segue avançando em quatro frentes, dois deles com grande violência".
— O incêndio se estendeu de uma forma que não tem explicação absolutamente nenhuma — disse Gomes, informando que muitas das vítimas foram calcinadas dentro de seus veículos enquanto circulavam por uma estrada. — É difícil dizer se estavam fugindo do fogo ou foram surpreendidos por ele — disse o secretário.
De acordo com investigações preliminares, não existem indícios de que o incêndio foi criminoso. A explicação mais provável é que um raio tenha dado início ao fogo, que se alastrou por florestas de eucaliptos.
— A PJ conseguiu determinar a origem do incêndio e tudo aponta muito claramente para causas naturais — explicou Rodrigues. — Inclusive encontramos a árvore que foi atingida por um raio.
O fogo teria começado em Escalos Fundeiros, município em Pedrógão Grande. Segundo as autoridades, o vento e o tempo seco facilitaram que as chamas se alastrassem.
— Nós temos equipes no terreno em três frentes. Por um lado, no plano da prevenção, embora obviamente com trovoadas não seja possível prevenir o que quer que seja — disse Rodrigues. — Equipes para determinar as causas e a progressão do incêndio, e outra para investigar as causas das mortes das pessoas que foram atingidas por esta tragédia.
O país enfrenta nos últimos dias uma onda de calor atípica, com temperaturas acima de 40 graus Celsius, o que aumenta o risco de incêndios. Ao meio-dia deste domingo, pelo horário local (8h de Brasília), a Defesa Civil informou que haviam cinco grandes incêndios no país nos distritos de Castelo Branco, Coimbra, Leiria e Santarém. Ao todo, 1,6 mil homens, com 495 veículos e 15 aeronaves estão trabalhando no combate às chamas.
O presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, viajou à zona atingida para prestar suas condolências às famílias das vítimas, e "compartilha sua dor, em nome de todos os portugueses". Ele destacou o trabalho dos bombeiros, “que fazem o máximo possível” diante das difíceis condições.
O governo decretou três dias de luto nacional, entre este domingo e terça-feira. A agenda do presidente também foi suspensa.
REAÇÃO INTERNACIONAL
Autoridades de diversos países lamentaram a tragédia e ofereceram ajuda no combate às chamas, que continua fora de controle. O diretor de Ajuda Humanitária da Comissão Europeia, Christos Stylianides, afirmou que o bloco europeu está “pronto para ajudar” Portugal, e destacou a “coragem dos bombeiros e dos serviços de emergência que estão no local, arriscando a sua vida para salvar a de outros”.
“Tudo será feito para apoiar as autoridades e o povo de Portugal neste momento de necessidade”, afirmou Stylianides, em comunicado.
Pelo Twitter, o presidente da França, Emmanuel Macron, expressou “solidariedade com Portugal, atingido por incêndio terrível”. Os primeiros-ministros da Espanha, Mariano Rajoy, e da Alemanha, Angela Merkel, telefonaram na manhã deste domingo para o premier português, António Costa. Mensagens foram recebidas do presidente da Comissão Europeia, Jean Claude Juncker, do comissário europeu Carlos Moedas, do primeiro-ministro de Malta, Joseph Muscat, e do Presidente da República de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca.
— Isso não parece real, é de fora deste mundo — disse o prefeito de Pedrógão Grande, Valdemar Alves. — É um verdadeiro inferno, nós nunca vimos algo parecido.
Ao menos 20 vilas de Pedrógão Grande foram afetadas. Em uma delas, Nodeirinho, 11 moradores morreram, informou a televisão estatal RTP, com imagens de carros e casas destruídas pelo fogo. Em choque, moradores contaram sobre uma família que estava tentando fugir, mas o carro foi pego por um “tornado de chamas”.
Na estrada entre Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pêra, muitos motoristas foram pegos de surpresa e morreram calcinados dentro dos seus veículos. Por questões de segurança, seis estradas que cortam os distritos de Leiria, Coimbra e Vila Real foram fechadas, informou a Guarda Nacional Republicana, ao jornal local “Público”.
O Globo
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