O mês de outubro deste ano foi o mais letal na Síria, com 3.369 mortes, segundo apuração publicada nesta quarta-feira pelo Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH). O organismo indicou que desse total, pelo menos 848 eram civis, dos quais 140 eram menores de idade e 135, mulheres.
A Síria vive um conflito interno desde março de 2011 que já deixou mais de 320.000 mortos. Em seis anos de guerra, o regime de Bashar Al-Assad conseguiu reconquistar mais da metade da Síria, mas continua isolado da comunidade internacional, dependendo de seus aliados, Rússia e Irã.
Desde o início da campanha militar russa em 2015 – para ajudar um regime sírio com sérias dificuldades com rebeldes e extremistas -, as tropas de Assad se recuperaram. Elas já controlam mais da metade do território, onde vivem mais de dois terços da população. O restante do país está dividido entre as facções rebeldes enfraquecidas, o grupo terrorista Estado Islâmico (EI) e, sobretudo, as forças curdas no norte e nordeste (25% do território).
A principal causa da morte dos civis em outubro, no entanto, foram os bombardeios russos e sírios, que mataram pelo menos 389 pessoas. Outros 122 civis foram assassinados pelo Estado Islâmico, enquanto 99 morreram pelos disparos de artilharia das forças governamentais, 84 pelos bombardeios da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos e dezoito pelo impacto de foguetes lançados por facções rebeldes e islâmicas.
As facções rebeldes e islamitas, assim como as Forças da Síria Democrática (FSD), uma aliança armada liderada por milícias curdas, sofreram 518 baixas, todas de nacionalidade síria, durante o último mês. Já as forças do regime de Bashar Al-Assad perderam 329 soldados das forças regulares e 403 das das milícias pró-governo. O grupo xiita libanês Hezbollah sofreu baixas de 26 integrantes, e 164 milicianos xiitas de outras nacionalidades também morreram. O OSDH acrescentou que pelo menos 1.062 guerrilheiros de facções extremistas morreram na Síria no último mês. Além das vítimas citadas, foram registradas as mortes de 19 pessoas cuja identidade não pôde ser confirmada.
O futuro de Assad
“O regime indiscutivelmente ganhou a guerra do ponto de vista estratégico, já que ninguém exige sua saída” como condição prévia, disse à agência France Presse o analista Hassan Hassan, do Tahrir Institute for Middle East Policy, baseado nos Estados Unidos. No entanto, “a insurreição pode continuar por vários anos” com “jihadistas, ou não jihadistas”, completou.
Todos os esforços têm sido até agora insuficientes para acabar com o conflito. Várias rodadas de negociações supervisionadas pela ONU fracassaram. Uma nova rodada está prevista para 28 de novembro em Genebra. Essas negociações ficam ofuscadas por aquelas que acontecem em Astana, organizadas pelos aliados do regime – Rússia e Irã -, junto com a Turquia, que apoia a rebelião. Apesar de alguns avanços, essas negociações sempre esbarraram em um principal ponto de desacordo: o futuro de Assad. A oposição exige que ele deixe o poder. O governo e seus aliados recusam a exigência.
O presidente sírio continua isolado, já que nenhuma grande capital ocidental restabeleceu suas relações diplomáticas. Recentemente, o secretário de Estado americano Rex Tillerson afirmou que o “reino da família Assad” chegava “a seu fim”, após um relatório da ONU que o acusa do ataque com gás sarin que deixou 87 mortos em abril.
No entanto, as Chancelarias já não pedem mais tão claramente a saída de Assad, como foi o caso nos primeiros anos da guerra. “O ambiente na Europa mudou consideravelmente”, opina Karim Bitar, do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (Iris). “Muitos atores importantes – serviços de Inteligência, agentes de contraterrorismo, partidos de extrema-direita, grupos econômicos – já demostraram certa abertura em relação ao governo e exercem pressões para normalizar as relações [com Damasco]”, acrescenta.
Para Joshua Landis, especialista em Síria e professor na Universidade de Oklahoma, “com o tempo, os vizinhos da Síria normalizarão suas relações”, referindo-se a países como Jordânia e Turquia. “Esses países precisam que os refugiados [sírios] voltem ao país e que as relações comerciais sejam retomadas”, explica.
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