Criticado por não ter explicitamente declarado voto em Fernando Haddad (PT) no segundo turno, o ex-ministro Ciro Gomes, que disputou o Planalto pelo PDT, justificou a sua posição em uma entrevista ao jornal Folha de S.Paulo publicada nesta quarta-feira. Para ele, apesar de ter se colocado contra Jair Bolsonaro (PSL), não faria sentido defender o voto em Haddad uma vez que não está mais disposto a “fazer campanha para o PT“.
Na sua visão, ele foi coerente com o que sustentou no primeiro turno. “A gente trai quando dá a palavra e faz o oposto. Quem tiver prestado a atenção no que falei, está muito clara a minha posição de que com o PT eu não iria”, diz.
O pedetista demonstrou ressentimento do ex-aliados, citando especificamente o episódio do acordo entre petistas e o PSB, quando, apesar de não conseguir a adesão da legenda, o PT sacrificou a sua candidatura ao governo de Pernambuco com o objetivo de garantir que o partido não apoiasse Ciro, isolando-o. Para o ex-ministro, neste momento o “PT elegeu Bolsonaro”.
“Você imagina conseguir do PSB neutralidade trocando o governo de Pernambuco e de Minas? Em nome de que foi feito isso? De qual espírito público, razão nacional, interesse popular? Projeto de poder miúdo”, disse, culpando “o ex-presidente Lula e seus asseclas” pelo que ele chama de “traição”. “Fomos miseravelmente traídos. Aí, é traição, traição mesmo. Palavra dada e não cumprida, clandestinidade, acertos espúrios, grana”, argumentou.
Na visão de Ciro, foi o lulopetismo se transformou em um “caudilhismo corrupto e corruptor” responsável por dar impulso a uma força política antagônica, uma “histeria coletiva” que levou o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) a ser eleito no último domingo. O ex-ministro disse ser falta de “sobriedade e modéstia” falar em uma nova candidatura à Presidência em 2022, mas deixou claro que voltou atrás em um discurso no qual anunciava que, caso Bolsonaro fosse eleito, ele deixaria a vida pública.
“Depois de tudo o que acabou acontecendo, a minha responsabilidade é muito grande. Não sei se serei mais candidato, mas não posso me afastar agora da luta. O país ficou órfão”, disse ao jornal.
‘Novo campo’
Ciro Gomes afirmou que, para a oposição a Bolsonaro nos próximos quatro anos, ele não quer participar de uma “reaglutinação da esquerda”, mas sim fundar um “novo campo” à esquerda onde não se “tape o nariz com ladroeira, corrupção, falta de escrúpulo, oportunismo”.
Nas próximas semanas, Ciro e Fernando Haddad devem travar uma disputa para ver quem será o principal líder do campo oposto ao presidente eleito. O tema passará diretamente por uma definição da organização de forças no Congresso. O PT pretende articular uma frente de esquerda na qual, como a maior bancada, a legenda seja a protagonista.
No entanto, há a expectativa de que outros partidos desse campo ideológico, o PDT de Ciro, o PCdoB e o PSB possam formar um outro grupo, sem a presença dos petistas, que, na visão de parte dos políticos destes partidos, se aproveitariam dos demais para reforçar a própria liderança. É exatamente esse o discurso do ex-ministro à Folha sobre o assunto. “Não quero participar dessa aglutinação de esquerda. Isso sempre foi sinônimo oportunista de hegemonia petista”, criticou.
Com informações da Veja
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