Apesar do fim da recessão econômica, anunciado pelo governo neste ano, a crise parece não ter passado para brasileiros que estão desempregados há mais de um ano. Um levantamento da consultoria IDados mostrou que 54% das pessoas não conseguiram se inserir novamente no mercado de trabalho. Desses, um terço desistiu de procurar. Os outros 46% arrumaram um emprego, sendo, mais da metade, oportunidades informais.
Diante desse cenário, especialistas antecipam que a fila dos 13 milhões de desempregados não diminuirá tão rápido assim. Com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnadc), do IBGE, o estudo entrevistou cinco vezes a mesma família por um período de cinco meses. As amostras foram comparadas com os fins de 2016 e 2017.
Responsável pelos dados, Thaís Barcellos comentou que há possibilidade de grande parte dos entrevistados não voltar ao mercado, o que pode ser um resultado preocupante a longo prazo. A pesquisa apontou que 35% do público que não conseguiu regressar ao mercado de trabalho em 12 meses têm de 18 a 24 anos.
"Evidências científicas indicam que permanecer muito tempo fora do mercado de trabalho pode dificultar a recolocação. Acrescentando a isso o fato de muitos serem trabalhadores jovens, que já têm dificuldade de acesso ao mercado de trabalho, com baixa escolaridade e que estão deixando de acumular experiência", analisou Thaís, em entrevista ao jornal O Globo.
Investimento em políticas públicas de qualificação
O economista Claudio Dedecca, da Unicamp, afirmou que, além da preocupação daqueles que perderam o emprego e ainda não conseguiram uma vaga, há também um certo receio quanto ao número das pessoas que tentam uma oportunidade pela primeira vez. Segundo ele, os números podem estar sendo influenciados por esse último público.
"Na década de 1970 e 1980, em que a população economicamente ativa chegava a crescer 4%, acontecia de postos serem ocupados por quem estava chegando ao mercado na recuperação de uma crise, em vez de ocorrer a reabsorção dos desempregados. Hoje o contexto é diferente. O crescimento da população economicamente ativa é baixo. Se não estamos reabsorvendo mão de obra, significa que a geração de emprego tem sido muito limitada", comentou.
Dedecca acredita que, para o mercado não perder quem ficou desempregado, é preciso investimento em políticas públicas de qualificação de mão de obra. "Neste exato momento, os mecanismos de qualificação estão zerados. As políticas que o FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) deveria fazer para favorecer uma reabsorção mais rápida da força de trabalho não estão ocorrendo, considerando a crise fiscal", ponderou.
Qualidade de vagas geradas
"A economia melhorou um pouquinho, passou de uma queda de 3,5% para crescimento de 1%. Ver que metade das pessoas que estavam desocupadas não conseguiram se ocupar é muito negativo. O mercado de trabalho não está bombando. Está gerando ocupação, mas precária", declarou o especialista em trabalho João Saboia, professor do Instituto de Economia da UFRJ.
Já de acordo com o economista Thiago Xavier, da Tendências Consultoria, dependendo do tipo de cálculo utilizado, a informalidade pode chegar a 44,9%, com índice mínimo de 36,3%. Os números, avaliou, estão perto dos maiores patamares da série histórica da Pnad Contínua, que foi iniciada em 2012. O levantamento é o mais recento dado do IBGE sobre emprego.
"Na recessão, todos perdiam vagas. Agora, a gente vê uma mudança na estrutura ocupacional, com crescimento da ocupação muito assentado nas atividades ligadas à informalidade", disse Xavier. O também economista Hélio Zylbertajn, professor de Economia da USP, acrescentou que, apesar da lentidão, o ano passado foi de avanço. "A proporção de desocupados que conseguem trabalho um ano depois está nesse momento em crescimento. O quadro é de melhora", concluiu.
Com informações da Agência Brasil
Com informações da Agência Brasil
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