A morte de Fidel Castro, figura política inescapável do século XX, não será suficiente para convencer sua irmã Juanita a retornar a Cuba, país que abandonou há 52 anos, ao romper com a ala familiar que há mais de meio século domina a política da ilha. Fidel Castro, líder da Revolução Cubana de 1959, morreu na sexta-feira, aos 90 anos, e será homenageado em cerimônias fúnebres ao longo de toda a semana em vários pontos do país.
Com sua recusa, Juanita Castro demonstra mais uma vez que nenhum cubano – independentemente da sua condição econômica e convicções políticas – deixa de ser afetado pelo exílio e pelas divisões ideológicas dentro das suas próprias famílias.
“Em nenhum momento regressei à ilha, nem tenho planos de fazê-lo”, afirmou Juanita Castro em nota enviada ao jornal El Nuevo Herald, de Miami, cidade onde reside há décadas. “Faz 51 anos que cheguei a este exílio em Miami, como todos os cubanos que saíram para encontrar um espaço onde lutar pela liberdade do seu país (…), e jamais alterei minha postura, embora tenha tido de pagar um alto preço de dor e isolamento por causa disso”, acrescentou.
É impossível ignorar esse lamento. Juanita foi a única dos sete filhos de Angel Castro e Lina Ruz que confrontou abertamente os irmãos Fidel e Raúl. Não só rompeu os laços com o Governo cubano que eles encarnavam como também chegou a espioná-los para a CIA, agência de inteligência dos arqui-inimigos Estados Unidos, conforme ela mesma revelou numa autobiografia intitulada Fidel e Raúl – A História Secreta (Planeta, 2011). Juanita não voltou a Cuba para enterrar sua irmã Angela, em 2012, nem por ocasião da morte do irmão mais velho, Ramón, no começo deste ano. Mesmo assim, o exílio cubano de Miami nunca lhe perdoou totalmente pelo sobrenome que carrega, apesar de ela ter precisado romper com quase toda a sua família para manter suas convicções políticas.
Muitos cubano-americanos, sobretudo os mais anticastristas, passaram a madrugada de sexta para sábado nas ruas de Miami comemorando a morte de Fidel Castro, vista como o fim de uma era e a abertura de uma perspectiva de maiores mudanças. Áreas como a Calle Ocho, no bairro da Pequena Havana, bem perto do célebre restaurante El Versailles – epicentro do exílio anticastrista –, estão em festa ininterrupta há mais de 24 horas. Mas tampouco por lá Juanita deverá ser vista. “Não me regozijo com a morte de nenhum ser humano, muito menos de alguém com meu sangue e meu sobrenome”, disse a octogenária, que há alguns anos se retirou totalmente da vida pública depois de um diagnóstico de câncer. A irmã rebelde dos Castro disse fazer votos para que todos os cubanos possam encontrar, depois da morte de Fidel, “não um caminho de confrontação e ódio, e sim um que finalmente una a todos os cubanos”.
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