Empreendedorismo na crise: especialista dá dicas para iniciar um novo negócio na pandemia

Published at : 11 Feb 2022


Embora a pandemia do novo coronavírus tenha colocado o mundo sob uma das mais severas crises econômicas dos últimos tempos, ela abriu a oportunidade para o surgimento de novos negócios. Essa é a avaliação da engenheira Lindália Junqueira, especialista em empreendimento e inovação, que assegura: é tempo de empreender.

Ao G1, ela apresentou dez “regras de ouro” para quem deseja tocar um novo negócio ou mesmo para quem já tem um negócio próprio, mas enfrenta dificuldades para se manter e crescer. Confira as dicas ao final da reportagem.

Aos cinco anos de idade, Lindália sonhava ser professora e astronauta. Levou alguns anos, mas ela acabou sendo, em 2010, a primeira brasileira a ser selecionada pela NASA, a agência espacial norte-americana, como líder mundial de empreendedorismo e inovação no Singularity University.

“Educação, aprender a fazer e realizar é sempre a essência de quem quer estar sempre transformando a sua vida e seu negócio”, assevera.
Engenheira por formação e com mais de 50 anos de carreira, Lindália foi executiva de grandes empresas e, atualmente, atua como investidora-anjo de novas startups, coordena e leciona em um curso de inovação e empreendedorismo em cidades inteligentes.

Além disso, ela é CEO fundadora do Haking Rio, evento voltado a temas de tecnologia, inovação e empreendimento que aconteceu na última semana e reuniu 165 palestrantes de diversos países em mais de 35 horas de conteúdo online e gratuito.

Diante da pandemia do coronavírus, Lindália disse ter precisado agir rápido. Mobilizou suas redes e criou a SOS Covid – uma chamada no mercado para que starutps, empresas e investidores de todo o Brasil pudessem propor soluções para enfrentar os transtornos decorrentes da crise.

Ela conta que desenvolveu a plataforma em duas semanas e que se surpreendeu quando, após uma semana de lançamento, cerca de 1,8 mil participantes tinham apresentado 131 projetos nas áreas de educação, saúde, logística, assistência social, empregabilidade e cooperativismo.

“Há soluções que vão desde telemedicina, que está sendo usada pelo Hospital Sírio-Libanês em São Paulo, a outras soluções de problemas relacionadas à Covid”, destacou.

Segundo Lindália, a crise gerou novas demandas do mercado, em todas as áreas, e obrigou as empresas e seus gestores a acelerarem o processo de digitalização dos negócios. A formação de parcerias, garante, é ainda mais indispensável nesse contexto.

“Inovação virou questão de sobrevivência. Ninguém inova sozinho. Inovação só existe com colaboração”, aponta.
Transformação digital, enfatizou a executiva, “não é apenas instalar um software novo”, mas implementar soluções reais para gestão dos negócios.

“Daí resultou que várias empresas precisaram, de fato, acelerar soluções que até estavam no radar, mas que estavam distantes de serem implementadas. Professores, por exemplo, que tinham dificuldade com o ambiente digital precisaram se adaptar, assim como os alunos precisaram ajudar nessa caminhada”, apontou.

Demanda por especialistas em tecnologia
Lindália aponta que a pandemia viabilizou o desenvolvimento de negócios, antigos e novos, sobretudo na área de alimentação, assim como no comércio, que precisou migrar para o ambiente virtual diante do isolamento social. Mas ela ressalta que a demanda por profissionais especializados em tecnologia ficou ainda mais evidente no Brasil.

Um estudo realizado pela Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) mostrou que cerca de 290 mil novas vagas devem ser abertas no país até 2024. A estimativa é de que cerca de 450 mil postos estavam vagos antes da pandemia devido à falta de profissionais qualificados, sobretudo na área de programação digital.

“Não precisa ser Einstein, não precisa ser gênio, não precisa gostar de matemática e física. Qualquer um pode aprender a programar [sistemas] e a reprogramar a própria vida”, enfatizou.

Tempo de empreender
Lindália diz que quem é empreendedor precisa superar crises o tempo todo, e a pandemia se apresentou ao mundo como oportunidade de inovação e desenvolvimento.

“É um momento, sim, de empreender, seja você uma startup, seja um pequeno comerciante”, diz.
Confira abaixo as dicas dela para quem deseja começar um novo negócio na pandemia.

1. Calma! Não se desespere! O mundo não acabou. Continua a ser uma relação P2P, “pessoa a pessoa”, mesmo nos canais digitais. Reforce esse relacionamento e conheça melhor cada um de seus clientes atuais ou novos usuários.

2. Teste e experimente antes de lançar e investir tempo e dinheiro. Pergunte se de fato essa sua nova ideia, esse seu negócio resolve uma “dor” real do mercado.

3. Busque parcerias, não existe inovação sem colaboração. Se você ainda não faz parte de nenhuma comunidade de startups ou redes de empreendedores do seu setor, se associe. Essa união traz força e caminhos coletivos alternativos, que ajudam a impulsionar a todos juntos.

4. Gestão, gestão, gestão! Cuide desde o início do fluxo de caixa, planejamento financeiro, orçamentos, gestão de recursos, metas, resultados esperados. Renegocie com seus fornecedores e crie uma nova condição para sustentabilidade com custos mais reduzidos.

5. Cuide de seus colaboradores como sua família. São os que mais precisam de serem apoiados nesse momento e que podem te ajudar a encontrar saídas e trazer mais resultados positivos.

6. Digitalização acelerada, foi positivo para continuarmos conectados nos negócios e redes, mas cuidado pra evitar ataques cibernéticos. Cuide da segurança dos seus sistemas e principalmente oriente seus colaboradores e familiares a não clicarem em mensagens por email ou redes sociais que desconheçam a fonte. Muitos enviam mensagens dizendo que você ganhou um prêmio, ou que o banco pediu uma “confirmação de dados”, e ao clicar, abre essa “porta” pra todo sistema e até contas bancárias serem invadidas.

7. Transformação digital não é só a mudança de um sistema na área de TI, mas, sim, mudança de cultura, uma nova engenharia social. Os processos digitais servem para facilitar e agilizar o trabalho e não para criar mais processos. Na educação, muitas universidades estão agora focadas em criar, de fato, plataformas de ensino à distância, mas que sejam capazes de engajar e gerar uma trilha adaptativa de aprendizagem personalizada e continuada.

8. Evite agendas de muitos calls diretos, reuniões demoradas, todos estamos em casa, porém sem um ambiente propício para trabalhar. Esse equilíbrio físico, mental e motivacional é importante para a saúde e produtividade de todos.

9. Humanicity: não adianta pensarmos em smart city, cidade inteligente, sem colocar o humano no sempre das decisões. Impacto social, ambiental, cultural, inovação, aceleração de startups, deixam de ser só “anexos” das empresas, e passam a ser foco de atenção do novo planejamento estratégico.

10. Não fique em cima do muro! Se por medo de tomar decisão do que fazer, você parar no meio do caminho, aí que não terás chance de se salvar dessa. O “empreendedor raiz” não desiste nunca da luta. Supera crises, Pivota, muda sua estratégia de negócio, muda nicho, tomba para o digital, abre novos negócios necessários nesse momento, faz M&A, une várias empresas, até concorrentes para ganhar escala. Vá à luta!

G1

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