No Brasil e por aqui, em Toronto, muitos têm repetido constantemente a pergunta: Por que os medalhistas brasileiros têm batido continência nos pódios dos Jogos Pan-Americanos?.
A questão tem resposta justamente na origem do gesto militar. Isso porque, dos 590 atletas do país no Canadá, 123 são membros do Programa de Atletas de Alto Rendimento (PAAR) das Forças Armadas, num projeto iniciado, em 2008, conjuntamente pela Marinha, Exército e Aeronáutica (voltado para os Jogos Mundiais Militares, no Rio, em 2011), e que hoje é tocado em parceria com o Ministério dos Esportes.
"Represento o Exército Brasileiro. Somos ensinados que, sempre que o hino toca, o militar, por respeito, tem de prestar continência e ficar em posição de sentido", explica o nadador Leonardo de Deus, campeão na segunda-feira dos 200m borboleta. A sargento da Marinha, Mayra Aguiar, medalha de prata no judô, conta que "é um orgulho poder prestar essa homenagem e lembrar quem está nos ajudando".
Eles fazem parte de um total de 610 atletas do PAAR - 222 da Marinha, 200 do Exército e 188 da Força Aérea - que têm direito a salários fixos (hoje, de até R$ 4 mil, dependendo da patente), 13º, locais para treinamento, comissões técnicas, plano de saúde médico, odontológico e fisioterápico, além de alimentação e alojamento. Além disso, eles acumulam as bolsas Pódio das categorias Olímpica, Internacional e Nacional do Ministério do Esporte.
"Após o Mundial Militar de 2011, as Forças Armadas cortaram parte dos recursos para manter os atletas. Então, fizemos uma parceria. Eles seguem pagando salários, benefícios e estrutura, mas o Ministério do Esporte é quem custeia as viagens para competições não-militares", explica Ricardo Leyser, secretário executivo do Ministério do Esporte.
Em Toronto-2015, a parceria tem mostrado resultado. Das 41 medalhas do Brasil nos quatro primeiros dias de disputas, 17 foram para atletas do PAAR (7 ouro, 2 de prata e 8 de bronze). Em Londres-2012, os militares conquistaram 5 das 17 medalhas do país.
"Além do Pan, estamos trabalhando para os Jogos Mundiais Militares, na Coreia, em outubro. Mas nosso objetivo maior são os Jogos Olímpicos do Rio-2016", disse o diretor do Departamento do Desporto Militar (DDM), do Ministério da Defesa, brigadeiro Carlos Augusto Amaral Oliveira, que explica que toda ação é alinhada ao trabalho estratégico do Comitê Olímpico do Brasil (COB), de confederações e clubes.
Polêmica
Apesar de legítimo e de fazer parte do código militar, o gesto de bater continência para a bandeira tem levantado polêmica em Toronto, pois o regulamento geral do Comitê Olímpico Internacional (COI) proíbe fazer propaganda ou se manifestar politicamente em eventos vinculados à entidade.
[caption id="attachment_20513" align="alignleft" width="300"] Gesto histórico de Tommie Smith e John Carlos (EUA) em 1968 (Foto: Reprodução site www.vice.com)[/caption]
Em 1968, por exemplo, uma manifestação de cunho ideológico rendeu aos corredores medalhistas americanos Tommie Smith (ouro) e John Carlos (prata) a exclusão dos Jogos Olímpicos do México.
Vestindo uma luva preta em uma das mãos, eles cerraram o punho ao ar na cerimônia de pódio dos 200m rasos, em ato icônico do grupo Panteras Negras, que lutava na defesa da resistência armada contra a opressão aos negros.
"É estranho num ambiente olímpico, e é um gesto com forte conotação política, sem dúvidas. Pessoalmente, não vejo como um problema a continência, mas entendo muito bem porque tanta gente tem comentado sobre os brasileiros fazendo isso nos pódios", comenta o jornalista canadense Phillippe Moreau.
O COB e o Ministério dos Esportes não enxergam motivo para polêmica. "De maneira alguma vejo como forma de propaganda ou marketing", afirmou ao UOL Bernard Rajzman, chefe de missão do COB no Pan. O Ministério se manifestou por nota, na qual diz que os atletas representam o Brasil e também as Forças Armadas, e que o gesto não se trata de propaganda, mas de respeito apenas.
Canadá,Toronto,Notícias,Pan-Americano,Pódio,brasileiros,Continência,Esportes,Jogos,Atletas,Medalhas