Três meses após o registro do primeiro caso de covid-19 na Bahia, dia 6 de março, em Feira de Santana, a doença chegou a 337 municípios, com 23.250 casos confirmados e 879 óbitos, segundo boletim da Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) de ontem. Com adoção de uma série de medidas para reduzir a circulação de pessoas, na última quinta-feira, a Bahia tinha 157,8 casos por 100 mil habitantes, ocupando a 20ª posição nacional em incidência da Covid-19, segundo dados do Ministério da Saúde (MS).
A suspensão das aulas nas redes pública e particular em toda a Bahia, a suspensão do transporte intermunicipal – atualmente englobando 290 cidades, e a determinação do uso obrigatório de máscaras estão entre dezenas de estratégias adotadas pelo governo estadual para reduzir a disseminação do novo coronavírus. Em parceria com gestores municipais, também foi decretada a antecipação de feriados e a implantação de toque de recolher.
Para o secretário da saúde do Estado, Fábio Vilas-Boas, cada uma das medidas contribuiu para a redução da taxa de crescimento de casos, que chegou a ser superior a 30% ao dia. ‘Estamos trabalhando com taxas inferiores a 5%, com isso nós conseguimos ‘lentificar’ a curva de crescimento, o que nos permitiu adequar a rede hospitalar, de modo a absorver a demanda que vem sendo gerada todos os dias’, avalia.
Considerando leitos preexistentes e os criados para aumentar a capacidade de atendimento público durante a pandemia, o boletim da Sesab, de ontem, informou que a Bahia conta com 814 UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) e 1878 leitos clínicos exclusivos para Covid-19, com taxa de ocupação de 68% e 55% respectivamente.
A Sesab ressalta que novos leitos são abertos progressivamente, de acordo com a demanda, e que a previsão é que 3.043 leitos clínicos e UTI exclusivos sejam disponibilizados em toda a Bahia, sendo 1.389 no interior e 1.654 na capital. Os números de ontem apontam que 88,5% do total programado já está em funcionamento.
Na linha de frente do funcionamento desses leitos, os profissionais de saúde representam cerca de 14,5% dos casos de Covid-19 registrados em todo o estado. De acordo com os sindicatos que representam os servidores estaduais e os trabalhadores terceirizados do setor é preciso melhorar a qualidade dos equipamentos de proteção fornecidos aos profissionais, como máscaras N95, e efetivar o pagamento de 40% de insalubridade.
Questionada sobre o tema, a Sesab afirmou que a máscara N95 deve ser utilizada em procedimentos com geração de aerossóis, a exemplo da intubação traqueal e ventilação não invasiva. A secretaria garantiu ainda que ‘todos os profissionais que atuam em unidades hospitalares possuem adicional de insalubridade, com diferentes níveis a depender do setor de lotação’.
Projeção
De acordo com o titular da Sesab, a previsão é de que até o final do mês, a curva de crescimento de casos ativos chegue ao platô, estágio no qual o número diário de casos novos será igual ao de pacientes recuperados a cada dia. Ontem, 12.131 dos casos confirmados encontravam-se recuperados, mas o boletim da secretaria não especifica os registrados nas últimas 24 horas.
Vilas-Boas considera que se a chegada ao platô ocorrer com todos os leitos de UTI plenamente operacionais e manutenção da baixa letalidade que tem sido registrada no estado, medidas para flexibilizar o distanciamento social podem ser adotadas.
‘O primeiro critério que é recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) é que haja uma diminuição de casos e de óbitos sustentada ao longo de 14 dias’, explica a vice-coordenadora do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz), Maria Yuri Ichihara. A pesquisadora comenta que não tem maior detalhamento de cada município, mas considerando o panorama baiano não se percebe essa redução.
Maria Yuri esclarece que pode haver quedas pontuais, então é necessário considerar sua manutenção por 14 dias, por esse ser o período médio considerado para a transmissibilidade.
Dessa forma, uma queda que mantém por 14 dias é um indicativo de que houve redução na transmissão do vírus.
A pesquisadora conta que modelagens feitas pela Rede CoVida, uma iniciativa conjunta do Cidacs com a Universidade Federal da Bahia, indicam que o número de casos de Covid-19 na Bahia seria maior sem a adoção de medidas em prol do isolamento social. ‘Ainda não temos todo o conhecimento sobre essa pandemia, mas provavelmente as medidas contiveram o crescimento no estado’, comenta.
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