Na última vez que Amanda*, de 26 anos, entrou em uma igreja ela saiu chorando depois que o padre disse que os gays não poderiam constituir uma família. Maurício*, 39, passou dez anos indo para cultos e chorava todas as vezes que o pastor dizia que os gays eram “aberrações”. Diante da pressão da família e do pastor da sua igreja, Murilo*, 28, camuflou sua orientação sexual e passou a professar uma fé que não era sua. Amanda, Maurício e Murilo se reuniram na noite deste sábado (26) com outras 100 pessoas – sua maioria homens gays e mulheres lésbicas – para tentar se reconectar com uma religião.
O grupo esteve reunido no “Culto da Gratidão – Um ano da Intenção Bahia”, promovido pela Igreja Cristã Contemporânea em Salvador. A igreja, que é evangélica, segue a prática da teoria da inclusão, e é comandada por um casal de pastores gays: Marcos Gladstone e Fábio Inácio, que são casados há dez anos. Eles são pais de três filhos adotivos.
“A igreja Contemporânea leva o amor de Deus a todos sem preconceitos. Se Jesus estivesse aqui ele faria parte da nossa igreja porque Jesus sempre andou do lado dos excluídos. E, durante muito tempo, nós fomos excluídos da igreja e da sociedade. A bíblia não condena a homossexualidade. Ela condena a promiscuidade”, explicou o pastor Fábio ao Me Salte minutos antes de iniciar o culto que aconteceu na Associação de Funcionários Públicos do Estado da Bahia, na Rua Carlos Gomes, no 2 de Julho.
A Igreja Cristã Contemporânea é a primeira do Brasil a aceitar LGBTs sem discriminação e ser comandada por homossexuais. Na Bahia, desde o ano passado, estão sendo feitos encontros com missionários. Ontem, foi o primeiro culto oficial e até junho deve ser inaugurada uma sede da igreja na capital baiana conforme o Me Salte antecipou . O local e a data de inauguração ainda não foram definidos.
“A bíblia nunca condenou a homossexualidade. Nós fizemos uma leitura histórico-crítica e nos originais percebemos que muitos trechos da bíblia são usados de forma errada para condenar os homoafetivos por algumas traduções. Nas versões originais no grego e no hebraíco vemos que não há uma condenação”, explica o pastor Marcos que fundou a igreja depois de ter que esconder sua orientação sexual por muitos anos.
Questionado sobre a convivência com outras religiões, especialmente as de matriz africana, que têm um acolhimento há mais tempo dos LGBTs, o pastor Marcos defende o respeito. “Na igreja contemporânea nós não criticamos nenhum tipo de religião. O que nós fazemos é pregar o amor a todos sem preconceito. É inegável que as religiões de matrizes africanas são mais acolhedoras há mais tempo. Mas a igreja contemporânea acolhe aquele homoafetivo que quer ser cristão”, defende o pastor. A igreja, que atualmente tem sede no Rio de Janeiro (onde foi fundada), Minas Gerais e São Paulo, tem cerca de 3 mil seguidores.
Correio 24h
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