Após 140 dias de greve, os médicos peritos do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) decidiram voltar ao trabalho, nesta segunda-feira, 25. Convictos de que teriam o atendimento antecipado, alguns beneficiários com primeira perícia marcada para os meses seguintes não realizaram o procedimento.
[caption id="attachment_32150" align="aligncenter" width="650"] Beneficiário encara contratempos após retorno de peritos do INSS (Foto: Raul Spinassé/Ag. A Tarde)[/caption]
Para evitar contratempos, o INSS recomenda aos segurados que estão com a primeira perícia agendada para aguardar, em casa, a convocação por parte do órgão federal. A orientação da Associação Nacional dos Médicos Peritos (ANMP) segue nesta mesma direção.
Sem dinheiro até para o transporte, a promotora de vendas Ana Paula, 39 anos, que operou um das mãos, andou da Federação para Brotas acreditando que a perícia dela - agendada para 19 de abril - seria realizada no primeiro dia da volta dos médicos ao trabalho.
"Nos últimos dias, a informação divulgada era de que as primeiras perícias seriam priorizadas. Saí de casa andando, mas me disseram que só depois do Carnaval", lamentou, desapontada, ao deixar a agência.
O sócio-educador Daniel Cunha, 34, remarcou cinco vezes o exame para analisar uma fratura no pé direito, ocorrida em junho passado. Sem trabalhar desde então, ele também tentou, nesta segunda, fazer a primeira perícia, mas o atendimento está marcado somente para março.
"Meu primeiro agendamento estava marcado para agosto passado, mas tive que remarcar cinco vezes", desabafou ele.
Estado de greve
Uma das diretoras regionais da ANMP, a médica perita Edriene Teixeira frisa que a antecipação dos atendimentos depende de uma reorganização na ordem de marcação das consultas, por parte do INSS, que deve se basear na agenda dos profissionais especializados.
"Para atendimento da primeira perícia, os beneficiários precisam aguardar a convocação por parte do INSS. Não adianta ir presencialmente às agências. No entanto, o órgão tem que se organizar administrativamente, de acordo com a agenda dos médicos", ressaltou ela.
No caso das perícias que não são a primeira vez, continuou Edriene Teixeira, os beneficiários devem comparecer às agências no dia do agendamento. "Esses têm de ir verificar a própria situação, para não acabar tendo que fazer tudo de novo", informou.
Edriene diz que, fora do contexto de greve, os peritos costumam, em algumas ocasiões, atender aos sábados para desafogar o atendimento. "Hoje, continuamos mobilizados, sob estado de greve, porque o INSS cortou os salários dos grevistas, desde setembro", afirmou.
Em nota divulgada desde a semana passada, o INSS alega que ainda não tem como falar em reposição do trabalho não executado durante a paralisação, porque a tentativa de acordo com os peritos ainda continua em negociação.
Associação não descarta novas paralisações
De acordo com a Associação Nacional dos Médicos Peritos, os profissionais retornaram às atividades, nesta segunda, mas não estão descartadas novas paralisações e o atendimento só será normalizado quando houver avanço nas negociações com o governo.
Em nota, o INSS informou que a Central de Atendimento 135 está à disposição para orientar a população e fazer os agendamentos e ou reagendamentos necessários.
O órgão estima que 1,3 milhão de perícias não tenham sido realizadas desde o início da greve, no dia 4 de setembro de 2015. Mais 1,1 milhão foram atendidas.
O INSS calcula que cerca de 830 mil pedidos de concessão de benefícios estejam represados (dado do último dia 15), à espera da realização de perícias para o andamento do processo.
O tempo médio de espera para o agendamento de perícia médica, na média nacional, passou de 20 – antes do início da paralisação – para os atuais 89 dias.
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