Pela terceira vez, parte de uma barragem da Mineradora Vale em Minas Gerais está prestes a se romper. Depois de Mariana, em 2015, e Brumadinho, em janeiro deste ano, agora é Barão de Cocais que deve ser a cidade a ter de lidar com um crime ambiental de grandes proporções. O talude (ou paredão) norte da Mina Gongo Soco, na região central de Minas Gerais pode colapsar a partir deste domingo, 19, até o dia 25, de acordo com a companhia.
De acordo com informações do G1, o tremor gerado pelo rompimento pode provocar uma reação em cadeia e causar o colapso da Barragem Superior Sul, que está logo abaixo e em nível máximo de alerta. A barragem é de rejeitos, do mesmo tipo da que se rompeu em Brumadinho.
Em fevereiro, 443 moradores foram retirados de suas casas, na zona de autosalvamento, que seria a primeira a ser atingida por uma eventual onda de rejeitos. Há cerca de 6.000 pessoas na zona secundária de salvamento, que fica a cerca de 16 quilômetros de Gongo Soco, região que pode ser atingida pela onda em cerca de uma hora e 12 minutos. Um simulado de emergência foi feito neste sábado, 18, já devido à proximidade do rompimento do talude da barragem.
A companhia pode ser multada em R$ 300 milhões pela Justiça mineira por descumprir a determinação de apresentar um estudo detalhado com impactos e danos de um rompimento da barragem. A Vale disse, em nota, já ter apresentado esse relatório.
Minimizar riscos
De acordo com a ANM (Agência Nacional de Mineração), a partir de agora, até o talude da cava da mina se romper, só poderão ser realizadas as operações seguras para recuperar a estabilidade das estruturas. “O talude da cava vai se romper com a gravidade, isso é um fato. O que estamos fazendo agora é minimizando os riscos, evitando que pessoas transitem dentro da cava ou que sejam atingidas”, diz o diretor da ANM, Eduardo Leão. As informações são dos jornalistas Luciano Nascimento e Léo Rodrigues, da Agência Brasil.
A ANM também notificou a Vale e determinou que a empresa tome uma série de providências emergenciais, entre elas estão a suspensão imediata do tráfego do trem de passageiros no trecho do viaduto localizado à jusante da cava, monitoramento por vídeo em tempo real das barragens e também a apresentação de estudo de comportamento da possível onda gerada pelo rompimento do talude norte.
Desde 2016, a cava e todas as obras já estavam paralisadas. Segundo a ANM, o risco de rompimento é do talude da cava e não da barragem, que fica a 1,5 km de distância da cava. A agência disse que a preocupação é que a vibração gerada pelo rompimento do talude influencie na segurança da barragem Sul Superior.
“Caso a vibração do impacto não chegue à barragem, a estrutura se manterá na condição atual, mas existe a possibilidade de a ruptura ficar restrita ao interior da cava e não extravasar o material dentro dela (água e sedimentos)”, informou a Agência Nacional de Mineração.
Caso haja rompimento da barragem, a ANM avalia que a onda de inundação chegaria em Barão de Cocais em cerca de uma hora.
Recomendações
Com a iminente ruptura do talude da cava, o Ministério Público de Minas Gerais recomendou que a Vale comunique, por meio de carros de som, jornais e rádios, informações claras, completas e verídicas sobre a atual condição estrutural da Barragem Sul Superior. Também orientou o fornecimento de apoio logístico, psicológico, médico para moradores de Barão de Cocais e das vizinhas Santa Bárbara e São Gonçalo do Rio Abaixo.
A mineradora também recebeu notificação da ANM para adoção de providências emergenciais. Entre elas, foi interditado parcialmente o tráfego do trem de passageiros da linha férrea Vitória/Minas. O trecho entre Belo Horizonte e Barão de Cocais foi desativado e a mineradora está disponibilizando sem custos adicionais um ônibus alternativo para esta parte da viagem.
A Vale informa que a Mina de Gongo Soco está sendo monitorada 24 horas por dia de forma remota, com o uso de radar e estação robótica capazes de detectar movimentações milimétricas da estrutura, além de sobrevoos com drone. “O vídeo-monitoramento é feito em tempo real pela sala de controle”, acrescenta a mineradora.
Evacuação
A barragem Sul Superior é uma das mais de 30 estruturas da Vale que foram interditadas após a tragédia de Brumadinho (MG), ocorrida em 25 de janeiro. Em diversos casos, a interdição foi acompanhada da evacuação das zonas de autossalvamento, isto é, aquelas áreas que seriam alagadas em menos de 30 minutos ou que estão situadas a uma distância de menos de 10 quilômetros. Atualmente, mais de mil pessoas estão fora de suas casas em todo o estado.
Barão de Cocais é o município com o maior número de casas evacuadas. A evacuação teve início no dia 8 de fevereiro quando a barragem Sul Superior atingiu o nível 2 e as famílias foram levadas para quartos de pousadas e hotéis custeados pela Vale. Em 22 de março, a barragem Sul Superior se tornou a primeira a atingir o nível 3, que é considerado o alerta máximo e significa risco iminente de rompimento. Desde a tragédia de Brumadinho, quatro barragens da Vale em Minas Gerais alcançaram esse alerta máximo.
De acordo com a Defesa Civil de Minas Gerais, 443 moradores da zona de autossalvamento deixaram suas residências. No dia 25 de março, um treinamento envolveu mais de 3,6 mil pessoas que vivem em áreas secundárias que seriam atingidas. Um novo simulado será realizado neste sábado (18).
Com informações do Catraca Livre
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