Após desastre em Mariana, moradores com animais têm dificuldade em sustentá-los

Published at : 14 Feb 2022

O barracão que, um ano atrás, tinha virado ponto turístico por abrigar animais resgatados da lama, mantido pela Samarco aos pés da rodovia que ligava Mariana à mineradora, agora é alugado por outra empresa. Os animais sumiram dali. Parte deles foi transferida para uma fazenda da região, mantida também pela Samarco. Oito dos cavalos que estão lá são da auxiliar de vendas Janaína Cecília das Flores, de 40 anos, e do marido dela, Alexandre.


Após desastre em Mariana, moradores com animais têm dificuldade em sustentá-los


Janaína tem uma pilha de pastas na casa que a Samarco alugou para ela, no distrito de Bandeirantes, em Mariana. Documentos, processos judiciais e fotos de seu antigo lar. Depois de a mineradora cuidar dos animais até agosto, Janaína conta ter sido procurada pela empresa. “Eles chamaram todos nós lá no centro de convenções (de Mariana)”, lembra. “Disseram que não teriam mais como manter os animais no barracão e estavam se dispondo a comprar os bichos. Mas era pegar ou largar. Eles montaram computadores e impressoras lá mesmo, para fazer os contratos de venda. Tinha um avaliador que ia dando o preço de cada animal.”


Nem Janaína nem o marido queriam vender os cavalos. “Não queria que nada disso tivesse acontecido. Queria estar na minha casa, que eu adorava”, conta. Mas se viu sem saída. “A gente tentou negociar, mas eles não quiseram.” Assim, a contragosto, vendeu os bichos. “A gente tinha um cavalo manga-larga paulista de R$ 4.500. Eles avaliaram em R$ 2 mil.” Ao todo, 20 proprietários teriam fechado os contratos com a mineradora.


Mas o relato da transação fez o Ministério Público mover uma ação contra a Samarco. Em caráter liminar, o MPE pediu a anulação de todos os contratos, para assegurar um preço justo. A Justiça acolheu o pedido. Agora, os atingidos esperam a audiência de conciliação do caso, marcada para a próxima sexta. Além dos oito cavalos na fazenda, há três outros que estão na casa onde Janaína vive hoje. “Não temos como dar ração, remédios e outros cuidados e nos manter com o cartão da empresa. Pedi para um veterinário ver uma das éguas, que está com infecção, e demorou 20 dias”, reclama.


“Desde o dia deste acidente, não conseguimos trabalhar direito e só gastamos dinheiro. Vivemos o dia correndo atrás das coisas referentes à Samarco.” A Samarco informou que a venda dos animais era opcional e os valores tinham sido definidos por empresa terceirizada. Agora, um acordo será intermediado pelo Ministério Público.


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